terça-feira, 19 de maio de 2015

A importância de parar



A Vida anda depressa, por vezes numa velocidade difícil de acompanhar. Entre tarefas, afazeres, deveres, o tempo passa depressa, os dias sucedem-se sem que haja um momento para olhar para dentro de si.

Quando a Vida passa assim, veloz, pode ir perdendo o contacto consigo, a noção do que precisa, esquecendo-se de ouvir. A correria incessante e esta perda de auto-cuidado acumulam-se em inúmeros sinais aos quais não esteve atento. Não, as necessidades, sejam elas físicas ou emocionais, não desaparecem se não lhes prestar atenção. É fácil perceber isso se tomarmos o exemplo da fome. Se ao longo do dia for ignorando os sinais que o corpo lhe vai dando de que precisa de comer, a sensação de fome pode ser alterada, da sensação de estômago vazio ao enjoo, passando por sinais mais sonoros que o seu corpo lhe vai dando. Enquanto não atender a esta necessidade, escutando o corpo, percebendo a mensagem como fome e contactando com o mundo para satisfazê-la, o seu corpo irá continuar em carência em última instância irá desligar. 

O mesmo acontece com as necessidades emocionais - de escuta, de carinho, de partilha, de choro, de riso. Se não for atendendo a estas necessidades inerentes à sua condição humana, pode dar por si em estados emocionais dos quais desconhece a origem ou a ter a sensação de descontrolo emocional.

Importa então saber parar. A questão que se levanta é como conseguir parar numa Vida que se quer tão veloz. Parar não significa deixar de realizar as tarefas a que se propõe, tirando dias de férias ou esperar que chegue o tão desejado fim-de-semana que afinal se revela num sem fim de outras tarefas. Parar significa permitir-se ao longo do dia ir escutando, respirando, regulando-se. Pode ser numa pausa tão simples como 3 minutos em que apenas permanece com a sua respiração, deixando que o ar desça até à sua barriga em vez de permanecer preso na zona do peito como acontece quando se sente mais ansioso. Parar pode ser apenas ir perguntando a si mesmo ao longo do dia "do que preciso neste momento?". Parar pode ser sair da posição inactiva e dar o passo de iniciar um processo terapêutico, cuidando-se.

É natural que mesmo que estas palavras lhe façam sentido e que se proponha a guardar pequenos instantes para se regular, respirando ou respondendo às suas necessidades imediatas, chegando ao fim deste dia repare que se esqueceu de parar. De facto sair de um modo de piloto automático, ou do modo fazer para o modo ser, terá que ser uma prática intencional. Não é algo que aconteça. Neste caso, o recurso às tecnologias poder-lhe-á ser útil. Baixando um aplicativo para o seu telemóvel, como o Mindfulness Bell ou outro que tal, poderá programar um toque (como o de um gongo ou algo mais discreto) de X em X tempo para que o recorde que é tempo de se cuidar.

E se já acumulou um sem número de necessidades não satisfeitas, de emoções que na altura não pode sentir ou se se vê a ter reacções no seu dia-a-dia em que não se reconhece ou que lhe causam sofrimento, que tal dar esse passo em frente e ser hoje o dia em que marca uma consulta de Psicologia. Hoje pode ser o dia em que decide começar a cuidar-se. E eu estou aqui.


Catarina Satúrio
Psicóloga Clínica

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