"Penso, logo existo". Descartes referia-se ao acto de pensar e não ao pensamento, porém confundimos hoje o ser que pensa com o pensamento que produz, identificando-nos com crenças, juízos ou pensamentos automáticos que fomos construindo, alguns como forma de defesa.
E é nesta fusão com o conteúdo dos pensamentos que reside parte da nossa ansiedade, da nossa deturpação no olhar para quem realmente somos. Como uma lente, a identificação com os pensamentos que produzimos, afasta-nos da realidade, essencialmente daquela que nós somos, e impede-nos muitas vezes de responder ao mundo de forma adequada.
Mas como gerir estes pensamentos que por vezes nos assolam, afligem, criam cenários ou considerações sobre nós e o mundo?
As técnicas de desfusão cognitiva utilizadas pela ACT, potenciam a nossa capacidade de ver os pensamentos como objectos exteriores a nós, promovendo a desidentificação com o conteúdo dos pensamentos e, consequentemente, diminuindo as emoções e os sintomas físicos a eles associados.
1º Exercício - observar o pensamento, criando espaço entre o observador e o conteúdo pensado:
Intencionalmente, traga a mente para um pensamento que o incomode com alguma frequência, impedindo-o até de se relacionar de forma mais plena com o mundo que o rodeia. Poderá ser um pensamento negativo sobre si, como:
“Eu não sou amado”
…
a) Silenciosamente, diga este pensamento
para si próprio, convicto da sua veracidade, e notando os efeitos que
este pensamento tem.
b) Tente agora ter o mesmo pensamento, mas dizendo antes:
“Eu estou a ter o pensamento que não sou amado.
c) E, por último, traga o mesmo pensamento à sua consciência precedido pela frase:
“Eu reparo que estou a ter o pensamento de que…”
Talvez possa notar um distanciamento e uma diminuição nas emoções relacionadas com o pensamento que o perturbava. Ou talvez apenas possa notar que é o observador desta sua produção mental. Agora criou o espaço entre si e o seu pensamento que pode permitir-lhe questionar esta crença.
2º Exercício - Cantar os pensamentos:
Outra possibilidade para criar distância dos pensamentos é:
a) Pensamento X
b) Cantar o pensamento X com o mesmo ritmo que você canta “Parabéns para você”.
Repare como dessensibiliza ou retira a carga emocional do pensamento que elicitou.
3º Exercício - Comer o pensamento
a) Foque-se no pensamento perturbador e tente encontrar uma palavra que o represente.
b) Visualize essa palavra numa tela à sua frente.
c) Transforme cada letra da palavra em algodão doce, permitindo-se depois comer letra a letra.
Espero ter criado uma primeira curiosidade sobre como lidar com os pensamentos, mas acima de tudo tê-lo feito questionar a identificação que faz com os conteúdos dos seus pensamentos.
Porque terapia não é apenas uma conversa, mas também instalação de recursos que promovam o seu
bem estar.
Um abraço.
Catarina Satúrio
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