quinta-feira, 9 de abril de 2015

Ansiedade de Desempenho



Dita a Lei de Yerks-Dodson que existe um nível óptimo de ansiedade necessário para a execução de determinada actividade, oscilando este nível de acordo com o grau de complexidade da tarefa em mãos. A própria concentração, informação retida e percepção aumentam ou são distorcidos quando ocorre um aumento na intensidade da ansiedade.
Assim, as alterações hormonais envolvidas neste processo produzem respostas que tendem a gerar um aumento da motivação e entusiasmo, o que conduz a uma maior produtividade, o oposto do que ocorre como resposta a níveis altos de ansiedade.
É verdade que uma elevada ansiedade interfere com a concentração e memória, que são críticos para o sucesso académico. Sem qualquer ansiedade, no entanto, a maioria de nós não tem a motivação para estudar para os exames, escrever artigos, ou fazer os trabalhos de casa diariamente.

Envolvidos no processo de realização de tarefas académicas estão as crenças de autoeficácia, definidas como a confiança na capacidade pessoal para organizar e executar determinadas acções. As crenças de autoeficácia influenciam as escolhas dos cursos de acção que são realizados, a quantidade de esforço despendido na concretização de objetivos pessoais, o tempo de perseveração em relação a obstáculos e fracassos, os padrões de pensamento de paralisação ou de acção, o grau de stress e depressão vivenciados com as exigências do ambiente e o nível de realização que alcançam. As crenças de eficácia controlam também a acção dos indivíduos, a autoregulação do processo de pensamento, da motivação e de estados afetivos e fisiológicos (Bandura, 1997).

Um bom desempenho académico envolve o acto de solucionar problemas de maneira eficiente. As crenças pessoais de autoeficácia e de avaliações futuras são os factores que subjazem ao desempenho. Os tipos de resultados que as pessoas antecipam face às suas acções dependem do julgamento feito sobre a sua capacidade de agir em determinadas situações: aquelas que se julgam altamente eficazes irão esperar resultados favoráveis das suas acções, o oposto do que ocorre com indivíduos com baixa crença de autoeficácia (Nunes, 2008).
Na maioria dos casos, a Ansiedade de Desempenho não é facilmente reconhecida em contexto escolar, em grande parte porque os adolescentes raramente se referem às suas preocupações emocionais. A ansiedade é vivida pelos alunos aquando de uma avaliação, como um teste. ou numa apresentação oral.
A maioria dos adolescentes consegue gerir os seus níveis de ansiedade nestas situações. Contudo, cerca de 30% dos alunos experimentam uma ansiedade severa - Ansiedade de Desempenho. Quando a Ansiedade de Desempenho atinge esse nível pode ter efeitos negativos significativos sobre a capacidade do aluno realizar uma tarefa de forma satisfatória. Com decorrer do tempo, a Ansiedade de Desempenho tende a generalizar-se a outros contextos de vida onde a avaliação pode aparecer, de forma directa ou indirecta. Adicionalmente, a Ansiedade de Desempenho pode incluir a diminuição da auto-estima, a redução do esforço e perda de motivação para as tarefas escolares. Outras formas de ansiedade que podem ser observadas na escola incluem a ansiedade generalizada, medos, fobias, ansiedade social e retraimento social.

A característica central da ansiedade é a preocupação, um processo cognitivo antecipatório que envolve pensamentos repetitivos relacionados com possíveis resultados ameaçadores e as suas potenciais consequências.
Quando as pessoas se tornam altamente ansiosas, existe uma tendência para percepcionar um maior número de situações como potencialmente ameaçadores comparativamente com os seus pares. Existe um medo irracional de que uma catástrofe ocorrerá e a convicção de que são incapazes de controlar os resultados.

A ansiedade manifesta-se em três eixos: cognitivamente, comportamentalmente, e fisiologicamente. Muitas vezes, os sintomas são evidentes em todas as três áreas, tais como a preocupação, o aumento da actividade, e o rubor da pele. Muitos dos comportamentos exibidos por crianças ansiosas e jovens refletem tentativas de controlar a ansiedade e minimizar os seus efeitos. A maioria dos adolescentes que estão ansiosos não apresentam comportamentos disruptivos e são mais propensos a se retirar e evitar situações geradoras de ansiedade. Em casos extremos, podem ser vistos pelos professores como desmotivados, preguiçosos ou menos capazes do que os seus pares. No outro extremo, alguns alunos com ansiedade de desempenho podem apresentar comportamentos desafiantes na sala de aula, consciente ou inconscientemente, como uma forma de evitar o risco de ser constrangido ou falhar.
Se não existirem transtornos de ansiedade ou depressão concomitantes com a Ansiedade de Desempenho, existem estratégias que podem ser trabalhadas com o Psicólogo no sentido de prevenir e controlar este distúrbio.

Estas estratégias incluem:
  • Treino de relaxamento
  • Usando hierarquias de tarefas que provocam ansiedade de forma gradual, de forma presencial ou imagética, conduzindo a uma dessensibilização da pessoa
  • Organização de tarefas - dividindo-as em etapas
  • Uso de técnicas cognitivo comportamentais para reduzir as características comumente associadas à Ansiedade de Desempenho, tais como scripts mentais, técnicas de auto-monitorização, auto-verbalização e auto-relaxamento
  • Reconhecimento do esforço de
    spendido
  • Enfatização do sucesso e aprendizagem dos aspectos a melhorar no processo e não só no resultado
  • É também fundamental que o trabalho do Psicólogo seja feito em conjunto com os Docentes e Pais, prestando informações sobre a Ansiedade de Desempenho:

- As características da ansiedade
- Os tipos de problemas cognitivos vivenciados pelos estudantes com desempenho ansioso
- As condições de tarefas que podem afectar a experiência e a expressão da ansiedade
- A natureza, os tipos e causas de ansiedade
- A tendência de adolescentes com ansiedade de desempenho para ter ansiedade traço e necessidade de intervenção perante estes alunos
- Uma descrição de intervenções que podem ser utilizadas

Apesar da ansiedade e depressão, muitas vezes, serem consideradas e tratadas como problemas distintos, ocorrem muito em conjunto com sobreposição de sintomas. Se ambos os distúrbios estão presentes simultaneamente o psicólogo da escola e a comunidade escolar devem estar preparados identificar a presença de e fornecer informação, intervenção e prevenção para ambos os problemas.
Os pais podem ser altamente instrumentais no trabalho com os adolescentes com Ansiedade de Desempenho. Poderá ser benéfico articularem-se com o corpo docente e Psicólogo no sentido de determinar se as suas expectativas estão a contribuir para a Ansiedade.

Catarina Satúrio

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